Yemojaismo – Iemanjaismo

Yemojaismo – Iemanjaismo

Yemojaismo – Iemanjaismo 320 214 Renata Barcelos - Yemojagbemi Omitanmole Arike

NO BRASIL

Dos registros que percorri, por primeira vez essas palavras foram usadas no Brasil em 1964, no jornal O Cruzeiro por José Belem, anos mais tarde em 1970 a revista manchete volta novamente usar o termo.

Os termos iemojaismo e iemojasitas, foram usados para retratar que:até pessoas que não pertenciam ao culto aos Orisa de nenhuma vertente, haviam então se encantado por yemoja, e que mesmo sendo de outras religiões, prestavam homenagens a Yemoja ou seja foram então chamadas de iemojaistas.

Religiões negras: notas de etnografia religiosa ; Negros bantos : notas de etnografia religiosa e de folclore:

” Na Bahia o presente de Yemoja é uma instituição contemporânea que vai provocando imitações” .

A imprensa da época ( 1940 -1990 que encontrei jornais falando de Yemoja mais de 300 páginas agora guardadas comigo) – tentavam por vezes entender quem era yemoja e o que estaria levando as pessoas a cultuar apenas essa Orisa .Existia por parte dos praticantes afro-religiosos, uma preocupação com a liturgia, com os conceitos, com o ritos x o crescimento de adeptos que não frequentavam terreiros, que mesmo sem saber das origens desta Orisa.. pediam a ela.

Edson Carneiro por anos tentou desfazer os “mal” entendidos… mas janaína, iara, sereia encantada, nossa senhora dos navegantes, sant´ana e entre outras falada pela multidão foi “personificada” na figura de Yemoja;.

Ele ainda parecia entender que seria um caminho sem volta, ” Lá na Bahia iemanja mora no dique , lago..” Edison Carneiro (Religiões Negras 1936) tenta alertar que as entregas para yemoja eram feitas do dique do tororo em salvador.

Em 1966 no Jornal do Comercio vem a manchete – Iemanjá é falsa rainha do mar é do rio e ele descreve como o conhecimento real de que yemoja era que ela era deidade do rio.

Neste ponto é importante dizer que foi por volta de 1919-23 que começam as oferendas para Yemoja na praia do rio vermelho em Salvador, depois que a comunidade pesqueira procura uma sacerdotisa para reclamar a falta de peixes no local, e começam então fazer oferendas para Yemoja – resultado satisfatórios obtido – nunca mais pararam de fazer oferendas para yemoja no mar – daquele ponto em diante as festas cresceram e tomou proporções gigantescas que nenhum grito alto foi capaz de abortar o movimento que levaria yemoja para o mar e passou ser aceito assim também pelas casas tradicionais existentes no Brasil.

A festa de Yemoja no mar, virou festa popular , e até chamada muitas vezes de folclóricas pelos jornais.

Yemoja é um fenômeno que venceu a barreira do preconceito como pode, e pelo visto aceitou o caminho de ser a Orisa mais cultuada do Brasil. até por aqueles que não estão dentro dos terreiros, barracões etc.. e não fazem parte de um àse!

Em 1979 um numero surpreendente de 700 mil pessoas registradas na Praia Grande- São Paulo – nesta mesma época, nem os o ano novo de Copacabana era tão popular no Brasil.

NA ÁFRICA

Na minha tradição da cidade de Oyo, é comum que famílias inteiras sejam dedicadas apenas a um Orisa, então resinifiquei a palavra Yemojaismo, ou Yemojaista, como aquele que possui Yemoja no centro do culto mas não de maneira leviana como propões José Belém , mas de forma focada séria – perpetua o conhecimento dentro da família dedicando-se quase que exclusivamente aquela Orisa e compartilha com a comunidade os saberes, contribui socialmente ao equilíbrio comunitário e participam junto interagindo com outros muitos grupos de Orisa.

Evidente que no Brasil temos uma outra condição de organização social e replicar essa forma de culto implicaria em reestruturar toda a sociedade atual, tal qual a sua solução em tempos passados formaram os cultos afro-brasileiros e reorganizaram dentro dos seus espaços o mundo yoruba.

O que propõe a maioria das pessoas agora que buscam o culto atual nigeriano, é apenas sim um novo desenho partindo do conhecimento e troca atual de informações sobre os cultos de Orisa que lá perpetuam, sem afrontar praticas já existentes ou passadas, mas trazendo o conhecimento de famílias especificas e locais.

Cada local, família em terra Yoruba pode ter sua própria tradição, seu próprio grupo de conhecimento de canções, versos de orisa, mitologia que são desenhados a partir de sua realidade local. Esse é um desafio imenso para aqueles que hoje, assim como eu , fazem e falam sobre o culto tradicional Yoruba.

Há uma velha tendência talvez ditada por outras grandes religiões como a católica ou islâmica que é preciso existir uma única verdade, essa busca por uma verdade suprema, absoluta, está muito distante da realidade dos povos de Orisa em área Yoruba, (ou estava*) mas aqui ainda um movimento anterior dentro de cultos afro brasileiros e agora também dentro da Esin Orisa Ibile a busca pela supremacia dos saberes – tal qual demonstra antagonicamente a total desconhecimento sobre o culto dos Orisa. Por exemplo na comunidade de Ibara em Abeokuta, Yemoja tem uma forte relação com o culto de Gelede, mais para o norte não há relação. Em uma comunidade ela está relacionada com o tingimento de tecidos em outra comunidade não está.

Algumas famílias possuem muitos orisa em suas casas, outras apenas um, algumas famílias tem orisa exu distante da casa , outras tem perto de casa não há absolutamente consenso sobre todos os assuntos, porem evidente há saberes que foram amplamente difundidos e isso se deve a expansão do grupo familiar daquele Orisa .. e nada além disso. Sei que parece confuso.. mas como não ser honesta desde aqui?

Praticar o culto de Orisa tradicional tal qual os Yoruba fazem hoje implica em escolher uma família, um local e isso será o retrato daquela tradição. No entanto conhecer as outras tradições é sobretudo criar tolerância e respeito.

Yemojaismo então neste contexto tem Yemoja no centro de culto e busca o maior entendimento e culto a essa orisa como a base central, como aquela que dá todos os direcionamentos a todas as coisas – tal qual se vê em famílias de Yemoja em Oyo, Sepeteri, Saki e Iseyin. E deste modo Yemoja então se relaciona com os outros Orisa. No centro o que se transforma na verdade absoluta está coberto pelo teto: do que se faz abaixo dele. E com respeito a outras casas , outros tetos e nas verdades absolutas que se prega ao seu grupo de fieis.

Yemoja em terra Yoruba e por conhecimento de uma dezena de famílias desta Orisa ela é orisa das aguas e mais precisamente Orisa de rios, o rio ògùn que atravessa os Estados de Oyo, Ogun e Lagos, desemboca em uma lagoa chamada Lekki até chegar ao mar. Muitas comunidades de Yemoja que não ficam as margens do rio ògùn , adotaram outros rios perto de suas casas para então cultuar Yemoja. Yemoja do Rio … logo como mostrado no começo deste texto é o conhecimento que também veio para o Brasil.

As cores de Yemoja : Cristal, branco (geral) – azul escuro e verde (algumas comunidades)
Saudação: Eepaa Omi oo! Eepaa Yemoja oo! e em Saki se ouve : Kabisiye Odo!
Pedras de rio e awe (pote com agua) não podem faltar no ojubo desta Orisa.

* Existem hoje movimentos que buscam a supremacia de conhecimentos em terra Yoruba, esse movimento chegou ao Brasil , e radicais não aceitam outras verdades, tal qual mesma tática usada pelas igrejas, fazem algo que não se fazia nem no Brasil: capturam novos adeptos, transformam o Orisa de Culto deles como o mais importante e essencial . – Radicais tem em todas as religiões.