TÚMULOS

TÚMULOS

TÚMULOS 960 718 Renata Barcelos - Yemojagbemi Omitanmole Arike

E AÍ TOPA FALAR DE TÚMULOS HOJE?

Continuando então.. sobre a minha viagem e sobre o que vi na Nigéria (yorùbá) onde pude pisar. Pode parecer sinistro para quem vê as fotos, ou filmes mas juro mesmo que não é!

De uma certa maneira acostumamos muito rápido a estar sempre cercados de túmulos por onde andamos. E em nenhum momento isso me causou incômodo, talvez porque já sabia que era assim, já tinha visto fotos.

Na vila de Yemoja em Oyo o túmulo do fundador da vilarejo e também de sua esposa estão nitidamente em lugares de importância, bem à vista e encostado a um espaço onde fazem reuniões.

Sério, simplesmente nos acostumamos, existe cemitério? Sim. Eu até vi um na estrada.. mas então dizem que são para católicos ou muçulmanos, mas que yoruba enterram seus familiares perto de casa ou até dentro de casa.

Em uma das casas de Osun em Oyo, o primeiro quarto a esquerda à frente do quarto que guarda o escondido ojubo de Osun tinha ali o túmulo de um familiar da casa que estavam reformando e ficou pronto até mesmo antes de eu partir de Oyo.

Em dos templos de Obaluaye também um túmulo chamava atenção antes do quarto do Orisa. E assim também em famílias Sango, Obatala etc.. onde estive.

No condado de egbe a mais bizarra das sensações que trazia um pouco de culpa, ali sentados apoiados na janela (Flávio e eu) a paisagem que tínhamos eram 4 túmulos e qualquer um que veja vai dizer nossa parece cenas de guerra.. a paz era simplesmente extrema. Lembrei do meu marido que morou na infância ao lado do cemitério e sempre disse que os melhores vizinhos são os mortos.. são silenciosos e tem paz. Ok ele não está por dentro dos”paranauê” para entender que nem sempre os mortos nos deixam em paz. Mas ali entendi o que ele falava.. vendo túmulos e em paz não da para explicar não.

Em Saki na frente de uma das casas de Yemoja também tinham muitos túmulos eu sempre observava o que os yoruba que estavam comigo faziam ou iriam fazer, tipo fazer um aceno? Dizer oi? Pedir licença? Simplesmente passavam, a não ser que alguém junto dissesse quem estava ali.

É algo estranho para nós (brasileiros) sei lá se é meu amor crônico, mas tinha sentido! escuta! então é bem comum (Como eu aprendi. Se alguém tem outro aprendizado: Àse) que ao adentrar uma casa te levem para ir ver o igba do Orisa.

Se já é conhecido da casa.. vai cumprimentar o igba primeiro e depois falar oi para as pessoas mas como evidente muitos lugares era a primeira vez.. invertia falava com o proprietário antes pedindo licença autorização. Nos casos onde existe um túmulo dentro da casa a situação aumenta pois é apresentado para quem está ali.

O caso de abeokuta neste sentido foi o mais interessante, em Ibara Abeokuta, a antiga sacerdotisa de Yemoja está enterrada na sala principal da casa. Tá é como abrir sua porta de casa e ter ali seu parente enterrado imagina na sua sala de estar ou no hall. Seguindo.. quando entramos fomos então informados e aí reverências foram feitas ao túmulo. Então a Iya de Yemoja que é a filha carnal da falecida..foi me abençoar antes de ir embora, e o fez encima do túmulo da própria mãe e entendi que honra maior não poderia ter.

Sem adentrar em culto algum, nem de egungun, nem de egbe orun, a relação com plano dos mortos e a convivência diária com os túmulos nos faz um lembrete e nos cria uma conexão, transforma algo que muitos acham assustador em uma relação mais leve e pedem a boa interferência dos que foram em suas vidas. Não pedem para irem embora de vez e nunca mais voltarem (mortos), mas sim que possam agir, ajudando, vi falarem com” túmulos” como se estivessem vivos. E espera, não quer dizer que quando morre alguém eles não sofram.. também não vou adentrar na liturgia dos ritos do enterro. Mas do pouco que soube, eles têm sim o dia do lamento e também o dia do festejo (tudo depende da circunstância da morte etc) e sentem falta, mas mantém uma relação diferente.

Ver pessoalmente essa relação me fez sentir melhor sobre a ideia de morte e é notória a ideia de como acreditam na existência de pós vida.

Beijos! que os ancestrais de cada um haja positivamente na vida de vocês!