Iemanjá: a “mulher com rabo de peixe”
3.5.15Festa de Iemanjá, História do Rio Vermelho
Por Nelson Cadena
Blog Memórias da Bahia
Um incidente entre os pescadores e o pároco da Igreja de Sant’Anna, ocorrido em 1930, teria provocado a definitiva distensão entre os primitivos protagonistas e organizadores da festa e os interesses da igreja. Desentendimentos que vinham desde 1906, quando a autoridade eclesiástica proibiu a realização da Romaria dos Jangadeiros, conforme noticiou a Gazeta do Povo em 12 de fevereiro do ano referido. Não se sabe o motivo. E se acentuou em 1919, quando o organizador da colônia, o comandante Pina, determinou que não mais se deveria pagar o dízimo à igreja pelo uso do terreno da Casa do Peso, que ficava ao lado da capela, onde os pescadores guardavam seus aviamentos e comercializavam o produto.
O impasse agravou-se com a notícia de que os pescadores estariam realizando oferendas à Mãe-d’água. E de fato isso já ocorria desde 1923 ou 1924, há divergências quanto à data. Então, o vigário, em inconveniente sermão, disse com todas as letras que era muita ignorância oferecer presente a uma mulher com rabo de peixe. Os pescadores sentiram-se ofendidos, deixaram de solicitar a tradicional missa celebrada no dia da romaria, que nem sempre ocorria em 2 de fevereiro, e assumiram explicitamente o culto à Iemanjá.
Não foi um processo imediato. Por pelo menos quatro décadas o presente à Rainha das Águas permaneceu vinculado aos festejos oficiais de Nossa Senhora de Sant’Anna, era um dos eventos do calendário festivo que se estendia por mais de uma semana. De início, o presente ocorria, sem a presença ostensiva do público que olhava de longe e não descia para a praia. Em finais da década de 40 o povo já era protagonista e esse ritual do presente foi ganhando popularidade, enquanto a Festa de Sant’Anna perdia prestígio e apenas mantinha o seu glamour com o desfile dos carros alegóricos e a eleição da Rainha da festa.
Em inícios da década de 80 o pároco da igreja, com o aval do Arcebispo, transferiu a Festa de Sant’Anna para celebração em 26 de julho. Então a Festa de Iemanjá rompeu em definitivo o seu cordão umbilical com a igreja católica e “aparentemente” com qualquer sincretismo e passou a ser festa exclusiva dos pescadores e do povo de Santo da Bahia, realizada não mais durante uma ou duas semanas, como nas suas origens, mas num dia só: 2 de fevereiro. Disse “aparentemente” por que 2 de fevereiro nada mais é do que a data mais importante do calendário católico mariano em todo o mundo ocidental. Nesse dia comemora-se a Purificação de Nossa Senhora.
A foto que ilustra este post é do acervo da Tribuna da Bahia. Mostra um artista plástico finalizando o presente especial.
História da Festa de Iemanjá
29.1.19Festa de Iemanjá, História do Rio VermelhoA festa em homenagem à Iemanjá teve início em 1924, quando um grupo de 25 pescadores resolveu oferecer presentes à mãe das águas. Nesta época, os peixes estavam escassos no mar. Desde então, todos os anos os pescadores pedem a Iemanjá que lhes dê fartura de peixes e um mar tranquilo.
Conta a tradição dos povos iorubás que Iemanjá era a filha de Olokum, deus do mar. Ele a teria dado uma garrafa e recomendado que só abrisse em caso de necessidade. Um dia, em fuga de Okerê, o marido que a ofendeu, ela tropeçou na garrafa, que se quebrou, fazendo surgir um rio de águas tumultuadas que levou Iemanjá ao oceano. Desde então, a rainha das águas não voltou mais para a terra.
A deusa Iemanjá recebe diferentes nomes, dentre eles: Dandalunda, Inaé, Ísis, Janaína, Marabô, Maria, Mucunã, Princesa de Aiocá, Princesa do Mar, Rainha do Mar, Sereia do Mar, etc.
Uma série de superstições rondam a celebração. Por exemplo, se o presente for encontrado na beira da praia é porque a divindade não gostou da oferta. Todos os anos, é preparado um presente principal pelos pescadores, que só é revelado no dia das homenagens.